segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Mea culpa, pai biológico e pai afectivo

“A atmosfera delirante que nos media fomos criando ao longo dos anos em redor do caso Esmeralda foi culpada dos muitos absurdos que a situação assume. As disputas paternais são tão antigas como a história da humanidade. O registo bíblico da justiça de Salomão, verídico ou fantasioso, diz-nos que a luta pela posse de uma cria é feroz. O juízo de Salomão mostra que é preciso uma simultaneidade de imaginação e autoridade para levar a bom termo tão difícil decisão. Em Portugal faltaram estes dois ingredientes. Imaginação judicial na busca de soluções harmónicas para os envolvidos e autoridade para as impor a tempo de proteger a menina. Como sempre, onde há vazio da razão o caos generaliza-se e os media descrevem-no. Todos nós, responsáveis pela informação pública em Portugal, entre 2003 e o momento actual utilizámos os termos pai afectivo e pai biológico no imenso drama humano para que Baltazar Nunes, Luís Matos Gomes e uma menina que agora tem sete anos foram sendo arrastados. Com isto manipulámos. A sociedade foi confrontada com relatos onde a escolha parecia ser simples. Entre a biologia e os afectos. E não era só isso. Se os afectos contam e a biologia é determinante, a razão tem de ser decisiva. Nos media, ao longo destes anos, a criança transita entre as famílias afectiva e biológica, diluindo-se em afectos e biologias que acabaram por fazer a todos perder o sentimento de si, como o descreveu António Damásio, a referência onde se conjugam identidades, direitos, obrigações e dignidades. A menina, descrita meramente pelas envolventes de biologias e paixões, foi sendo despida da sua identidade própria e dos seus direitos, enquanto outros actores iam adquirindo novas identidades, também elas tipificadoras dos seus papeis mediáticos no imenso drama da vida real onde houve pouco jornalismo e muito guionismo. Baltazar Nunes perde o apelido e torna-se meramente "Baltazar". Luís Matos Gomes torna-se no "Sargento Gomes". Com estes rótulos passam a constituir parte do elenco do reality show que tudo condicionou.” Mário Crespo in JN de 19/01/2009

Bom ver um mestre fazer um mea culpa, pena que o “fantástico e reformado” sistema judicial português continue a permitir a palhaçada que se tem verificado. Palhaçada que só terminará quando a menina tiver 18 anos ou quando o pai biológico verificar que afinal não pode tirar grandes benefícios deste processo todo. Pai é quem está lá sempre, a cuidar, a dar a mão, a dar o ombro, a proteger; isso de pai é pai só porque deu o contributo no acto sexual que gerou a criança e depois nunca quis saber dela, para mim é tanga. Não é pai não é nada.

4 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida nenhuma temos que saber diferenciar um pai de um progenitor, são coisas mt diferentes.
Segundo, correndo o risco de chatear o quintela, a nossa comunicação social deixa muito a desejar, denunciam-se os problemas psicológicos que esta menina pode sofrer devido a esta situação, mas no entanto não há problemas em expôr a vida da miuda e dos que a rodeiam... E isto aplica-se aos pais ( biológicos e afectivos ) que parece que não conseguem sair dos media, aparecem nos programas da manha, nos telejornais, dão entrevistas a torto e a direito, muita gente fala do pai biológico desta menina, mas o " Sargento " fazia muito melhor pela sua filha se a protegesse de todo este alarido e não viesse para os media falar mal da justiça e do pai biológico... A revolta é legítima, mas pela menina devia ser mais contida.

Insano disse...

Aqui até acho que a culpa é "nossa" na totalidade. E se não é, está muiito perto. É um exemplo perfeito da magnitude do denominado "quarto poder"
Amen Mr. Crespo and Mr. C.C.

C.C. disse...

Que não fique dúvidas acho que são todos culpados menos a miúda. Ninguém soube ter uma atitude com finalidade única de proteger a pobre coitada...

Insano disse...

Pá,eu não tenho culpa nenhuma. E acho que o tu e o D.J também não...